terça-feira, 9 de agosto de 2011

A TAL BUSCA DA FELICIDADE E 5 EFEITOS COLATERAIS DA GENTILEZA

Algo que jamais entendi (só mais uma entre muitas coisas) dos americanos, é o direito constitucional deles de buscar a felicidade, o que me causa visões estapafúrdias de gente batendo nas moitas e berrando: “Sai felicidade, não se esconda...”, como se felicidade fosse uma coisa que a gente caça e guarda numa gaiolinha feito passarinho.
Ver um pôr de sol, pra mim é felicidade.
Me jogar na piscina com as crianças era felicidade
Ganhar uma pulseirinha feita de margaridinhas do campo, pela minha neta mais velha, total felicidade.
Ouvir a Nona de Beethoven, fazendo de conta que sou o Zubin Metha dirigindo a sinfônica de Londres, felicidade fácil.
Jogar conversa fora com meus amigos...nada mais feliz
Aprender algo novo...ó coisa boa
Ser acordada às 6 da madrugada, após meia hora de sono, devido à noite insone causada pela queda de uma criaturinha de 4 anos escada abaixo, de cabeça e ficar a noite inteira a espiar se a respiração estava normal, e essa mesma criaturinha lhe pula na barriga aos berros de :”Olha tia a bola grande que tenho na testa!”...felicidade indescritível
Ver minha cãzinha (recuso-me a chama-la de cadela que ela não merece) a me receber como se fora heroína a retornar das guerras Púnicas...impagável
Se ganhar na Loteria, provávelmente será um momento feliz, só tenho que me lembrar de comprar os bilhetes.
Ver um paciente melhorando, ler um bom livro, andar na feira de domingo com consequente pastel...quantas e quantas coisas são pura felicidade.
Felicidade acontece, às vezes a trôco de absolutamente nada, só de acordar cantarolando ( o que provoca intensa infelicidade nas pessoas próximas, desde que sou consciente que canto muito mas muito mal, mas gosto, fazer o que?). Será que americano pensa que felicidade é algo tangível, tipo uma TV nova de não sei quantas polegadas? E a felicidade durará ate aparecer uma TV maior?
Fiz pesquisas a respeito, perguntando a amigos, conhecidos, vizinhos, taxistas, caixas do supermercado, a definição deles de felicidade. O que aprendi foi que, eles não sabem definir, mas sabem que é direito deles e por conseguinte a conseguirão, com pleonasmo e tudo.
E aí surge minha pergunta que sempre os espantou: Se você não sabe o que é, como vai saber quando encontrar?
Porque eles sabem o que é: é o direito deles...sim, dirão voces, isso é pensamento circular, o que é verdade, mas esse pensmento me ensinou o básico da forma de pensar dos americanos: eles podem processar para conseguir, posto que está na costituiçao. Vejam o seguinte caso: Há alguns anos atrás, uma senhora estabanada (não fui eu não, infelizmente) queimou-se com o café do McDonald, processou a companhia e ganhou um milhão de dolares. Um milhão pelo própio estabanamento. O processo foi que, não havia plaquinha avisando que o café estava quente e podia queimar ( coisa que naturalmente ninguém sabe, posto que o costume universal é tomar café gelado né?), mas constitucionalmente, ela tinha o direito de não se queimar se o Mc Donald tivesse postado a tal plaquinha, e em se queimando, ficou profundamente infeliz...desta forma sendo lesada em seus direitos constitucionais.
A coisa chega a absurdos tamanhos, que, quando trabalhava no MHMR tive que fazer um curso de “como ajudar um paciente paralítico a tomar suas pílulas”pôsto que, não se pode pegar nelas, pedir pro paciente abrir a boca, colocar la dentro e dar água, não senhores, com  sua mão esquerda, você segura por baixo da mão direita do paciente, na qual, com sua mão direita você derrama as pilulinhas que estão dentro de um copinho. Leva a mão direita do paciente à  boca  (boca dele, paciente não a sua) e despeja as já citadas pílulas, e aí, com sua mão direta bota o copinho com água na mão esquerda do paciente, aperta os dedinhos dele em volta, com cuidado e precaução para não esmagá-los, e leva o conjunto à boca do paciente (o qual, em minha imaginação, nessa altura do campeonato, já com a paciência na lua, lhe cuspia as pílulas na cara). Não adiantou nada minha objeção de que, não só não tinha contacto  direto com pacientes, como também quem distribuia as pílulas era o pessoal de enfermagem. Naturalmente que poderia acontecer que, num malfadado dia, tendo todo o pessoal de enfermagem morrido de morte horrenda e acidental, eu me encontrasse sòzinha a ter que distribuir medicamentos, faze-lo de forma inapropiadae, e então, todos os pacientes, insultados pelo meu comportamento, fizessem uma ação conjunta contra o MHMR por empregar tão despreparada criatura.
Dá pra entender porque é que eles vivem caçando a pobre da felicidade?
Mas é nesse espírito de busca feliz que vai o seguinte artigo:

5 EFEITOS COLATERAIS BENÉFICOS DA GENTILEZA
“Se você não tiver caridade em seu coração, você padece do pior tipo de doença cardiaca”Bob Hope
1-    GENTILEZA NOS FAZ FELIZES
Quando fazemos uma gentileza, nos sentimos bem.A nivel espiritual, muitas pessoas acham que se sentem bem pois esta é a coisa certa a fazer, então quando a praticamos, estamos tocando em algo profundo dentro de nós que diz: Isto é quem eu sou.
A nível bioquimico, a sensação de “bem estar”é causada pelo aumento de substâncias no cérebro que são nossas “heroína e morfinas”naturais, cujo nome científico é “opiáceos naturais”. Por causar aumento nos niveis de um neurotransmissor chamado Dopamina, sentimos uma sensção de bem estar, como a produzida por heroína e morfina...é, literalmente como estar...DOPado.(Essa última bobaginha é minha, o autor não disse isso)
Essa sensação também é chamada, pelos americanos que adoram dar nome a tudo, “helper’s high”, que é duro de traduzir, mas é mais ou menos a “sensação de bem estar elevado de quem presta ajuda”.
2-    GENTILEZA TORNA NOSSOS CORAÇÕES MAIS SAUDÁVEIS
Atos gentis são usualmente acompanhados por uma sensação de “calor emocional”, o que leva o cérebro a produzir um hormônio, chamado Oxitocina, que por sua vez libera ácido nítrico, o qual dilata os vasos sanguineos, o que diminue a pressão arterial.
Assim, a Oxitoxina é conhecida como “hormônio cardio-protetor” pois protege o coração por baixar a pressão.
Assim se, atos de gentileza produzem oxitoxina e oxitoxina protege o coração, podemos concluir que atos gentis são cardio-protetores.
3-    GENTILEZA RETARDA O ENVELHECIMENTO
Envelhecimento, a nível bioquímico, é a combinação de um mundareu de coisas, mas os dois maiores culpados são os radicais livres e as inflamações, ambos resultantes de escolhas de estilos de vida não muito saudáveis.
A boa notícia é que há cada vez mais evidência que a oxitoxina (produzida através de calor emocional), reduz os níveis de radicais livres e inflamações no sistema cardiovascular,  retardando assim o processo em sua fonte.
Veja só a coincidência, os dois grandes culpados acima, também desempenham importante papel nas doenças cardíacas, sendo portanto mais uma razão do por que gentileza é boa para o coração.
Há também estudos e mais estudos sobre a correlação entre compaixão e a atividade do Nervo Vago. Apesar do nome (Vago), as funções do danadinho são mais do que sérias, a saber: regular a frequência cardíaca e controlar os níveis de inflamação no organismo (só falamos desses dois por quenquanto).
Essa regulagem da inflamação é chamada de Reflexo Inflamatório. Assim, um estudo feito com budistas do Tibet e seu método de meditação com amor e bondade, demonstrou que, de fato, gentileza e compaixão reduzem inflamações no corpo, provavelmente por seus efeitos sobre o Vago,
4-    GENTILEZA PRODUZ MELHORES RELACIONAMENTOS
Isso é mais ou menos óbvio. Todo mundo sabe que gostamos de pessoas que são gentis para conosco. Isto porque, a gentileza reduz a distância emocional entre duas pessoas e nos faz sentir mais “ligados”.É uma coisa tão forte que, surpresa das surpresas, é genético. Pois não é que a gentileza está inserida em nossos gens!.
Nossos ancestrais tiveram que aprender a cooperar uns com os outros, como forma de sobrevivência. Quanto mais fortes os laços emocionais entre o grupo, maiores as chances de sobrevivência, assim, os “genes da gentileza”estão gravados em nosso código genético.
Hoje em dia, quando somos gentis uns para os outros, sentimos uma conexão, e assim, novos relacionamentos são formados e velhos relacionamentos se fortificam.
5-    GENTILEZA É CONTAGIOSA
Quando somos gentis, inspiramos outros a serem gentis, criando um efeito em cachoeira que vai se espalhando, do mesmo modo que uma pedrinha cria circulos quando jugada na água, tocando outras vidas e inspirando por onde quer que os círculos se expandam.
Num estudo científico recente, um cidadão anônimo de 28 anos, entrou numa clínica e doou um rim. Êsse ato desencadeou um efeito tipo “pague adiante” durante o qual membros de famílias de recipientes de rins, doaram um rim para quem quer que estivesse precisando. Como foi relatado no New England Journal of Medicine, o ato se espalhou por todo os EUA, onde 10 pessoas receberam um rim novo como consequência do ato daquele doador anônimo.
David R. Hamilton  http://drdavidhamilton.com/

DIVERSIDADE CULTURAL

Nesta altura do campeonato, considero-me uma imigrante profissionaI. Este assunto costumava vir à minha cabeça raramente quando criança, de quando em vez na adolescência, bastante na idade adulta, e o tempo todo quando baixei no grande estado do Texas.
Pois vejamos: quando da mudança da Itália para o Brasil, foi mais ou menos assim: minha mãe informou, mostrou fotos ou desenhos, já não lembro, de frutas fantásticas das quais nunca tinha ouvido falar, subimos no navio em Genova, descemos em Santos e a vida continuou mais ou menos como de costume, adicionados que foram dois problemas: o da banana e o das pocinhas de lama.
O primeiro, deveu-se a uma revisão médica sui generis: quando na Itália, a fruta a ser comida, a maravilha, o portento, era a banana, provavelmente porque, na Itália do pós-guerra, meados dos anos 50, banana era uma raridade. No Brasil, a fruta foi mudada para maçã, naturalmente fruta rara no Brasil daquela época. Minha mãe recusou-se a fazer a troca, e assim pude crescer alegrinha comendo minhas bananas, das quais, a preferida era/foi/continua sendo, mesmo que seja difícil de achar,  aquela bananinha mel, vendida em cachos no trecho final da Piaçaguera...ai que saudades.
O segundo foi a paixão imediata de meu irmão, na época com cerca de dois anos, por pocinhas de lama. Era só ver uma, e la ia ele, morto de alegria, sentar dentro...e como tinha pocinha!
Até aí não teria sido um desastre, não fosse a certeza de minha mãe que o pimpolho seria atacado por uma legião de germes tropicais, naturalmente muito mais horrendos e mortais que germes itálicos, tendo então que banhar e trocar completamente o desavisado, numa média de 6 vezes por dia, a depender das condições atmosféricas. E isso numa época que roupa se lavava no tanque, à mão.
E esses foram os grandes problemas que me lembro, o resto, pelo menos em minha opinião, foi interessantissimo. Mamãe discordou a respeito dessa minha visão por toda a vida.
Meu primeiro choque cultural ocorreu na Copa do Mundo, 1970, final Brasil/Itália, quando me descobri em total pânico sem saber pra quem torcer, naquela situação de nem a favor, nem contra, muito antes pelo contrário.Sufoco total. Acalmei-me pensando que, afinal de contas, Copa é de 4 em 4 anos, e as chances de toda final ser Itália/Brasil seriam poucas.
Certa estava, pois outra final entre ambos seria só em 94 quando o bestão do Baggio, o único jogador de futebol zen-budista na história da humanidade, chutou a bola pra lua, Itália vice, de novo.
O segundo choque foi alguns anos mais tarde, quando um grande amigo, que tinha crescido lá em casa, confessou que passou anos apavorado, até entender que, o que ele considerava a prévia de combate mortal, era apenas a família discutindo assuntos corriqueiros. Pensei na época... uai...e que eles não conversam? Também não pensei muito mais no assunto.
O terceiro foi mortal, abalando minhas mais profundas crenças sobre vida, relações, percepções e decepções, e veio após o já citado amigo ter assistido o “La Nave vá”do Fellini, quando me informou que finalmente havia entendido que, em tendo sido criada num ambiente como o descrito no filme, certamente havia perdido qualquer oportunidade de me tornar “normal”.
Como assim não sou normal? O que há de errado se, ao invés de usarem armas, o povo se digladia por poder cantando? Vai me dizer que, jamais em momento algum se sentiu como que perdido num barquinho, no meio do oceano, e a dúvida como metáfora, sendo um enorme hipopótamo bem sentado à sua frente???
Aquilo doeu.
Mas, a vida anda, o tempo passa, há coisas a serem feitas, novidades a serem apreendidas, viagens, novos mundos a serem descobertos, crianças nascem, idosos morrem nessa incrível máquina de reciclar que é o mundo.
E assim, num belo dia, eis que me encontro no Texas. E sou chamada de “Alien”. E descubro que o green card é cor de rosa, e sou elevada à categoria de especialista em “Diversidade Cultural”.
Pensava eu, errôneamente pelo visto, que minha função era ensinar psicofarmacologia e distúrbios mentais, e nervosíssima me tornei com essa nova atribuição. Fui à luta.Muitas horas de sono perdidas depois, uma inteira floresta destruída de tanto papel que usei imprimindo artigos do santo Google, minha tábua de salvação no oceano revolto onde o hipopótamo era bem real, só me faltou o barquinho e o coro ao fundo cantando “Vá Pensiero”, eis que o momento “Eureka”  veio quando, funcionando como tradutora para uma senhora mexicana e seu psiquiatra indú (cujo inglês era horrendo, embora tivesse vivido nos EUA desde os 3 anos de idade), a luz se fez.
Naquele cubículo com uma senhora baixinha, gordinha de trança pelo meio das costas, a se queixar em espanhol para um indú alto, magérrimo, marrom e de turbante, imóvel em sua cadeira aguardando a tradução feita por uma italo-brasileira de meia idade,branquela e sardenta, o óbvio ululante do Nelson Rodrigues materializou-se e o hipopótamo virou borboleta: quem foi que disse que somos feitos iguais?
Orgulhosamente informo que, tantos anos depois, as apresentações, aulas e apostilas no assunto, desta que voz fala, continuam a ser usadas naquele local. E a camiseta que usei na primeira aula pras turmas novas, amplamente reproduzida., e dizia o seguinte:
NO PARAÍSO DA COMUNIDADE EUROPEIA
Os cozinheiros são franceses
Os policiais são ingleses
Os amantes são italianos
Os dançarinos são espanhóis
E tudo é organizado por alemães.
NO INFERNO DA COMUNIDADE EUROPEIA
Os cozinheiros são ingleses
Os policiais são franceses
Os amantes são alemães
Os dançarinos são suíços
Os banqueiros são espanhóis
E tudo é organizado pelos italianos.
E vive la différènce!