terça-feira, 25 de outubro de 2011

CHAPÉUS E PANACHÉS




Panache é uma palavra de origem francesa que carrega a conotação de algo extravagante, corajoso, imprudente. 
A tradução literal é pluma, usada em um chapéu, mas a referência é o Rei Henrique IV da França. Amante dos prazeres , cínico, líder corajoso, um dos mais queridos dos reis de França, era famoso por usar uma pluma branca impressionante em seu capacete e por seu grito de guerra: "Siga o meu penacho branco!" ( "Ralliez-vous à mon blanc panache!").


Sou fascinada por chapéus desde muito cedinho, acho que desde os 3 anos, quando nonno me mostrou o chapéu dele de bersagliere, com aquele mundaréu de penas a cascatear até seus joelhos.


Depois, vieram os chapéus de minha mãe e avós.

 Lembro de dois preferidos, um negro como noite sem luar ( perdão Castro Alves ), com um véuzinho cheio de bolinhas ( com certeza deveriam ter um nome especifico, o qual não esqueci, posto que jamais aprendi), e o outro era uma espécie de fascinator prateado que parecia uma enorme virgula.

Havia tambem o baú de maravilhas da avó de minha melhor amiga, que além de chapéus de todas as formas, côres, estilos e marcas, guardava vestidos, sapatos e luvas de eras há muito desaparecidas.

Quando fiz 15 anos e fui pra Italia, era inverno e minha mãe reformou uma estola de raposa vermelha dela, fazendo a gola de meu capote e mais o chapéu tipo russo (dava até pra ouvir o tema de lara ao fundo), combinando. 

O único problema era que o chapéu cobria meus olhos, mas um pouco de cegueira não ia me impedir de usar o que, em minha modesta opinião, era uma maravilha, e afinal, era só colocar um pouquinho de lado, e meu olho direito ficava quase que totalmente desimpedido...pra que mais de um?


E nessa viagem, ganhei o chapéu símbolo dos Alpini, de zio Rico e seu amigo,  heróis do Julia.

Morando no Brasil, as oportunidades chapeleiras sempre foram pouquissimas, tirando praia e algumas maluquices nos meus jovens anos, até que outra oportunidade se apresentou: Fellowship nos EUA!

Como viajar em 1977 para a America sem chapéu???

E lá vou eu de fedora tipo Ingrid Bergman despedindo-se do Rick no final de Casablanca, menos o charme da citada senhora.
Areoporto de Congonhas. 
Detesto despedidas. 
Amo chegadas, mas como impedir familia italiana de se reunir no areoporto pra grande viagem da filha/irmã/neta/ sobrinha/prima, tinha de um tudo na fila do beijo, até que, depois de beijar um cara no final da fila, me dei conta que nunca o tinha visto, mais gordo ou mais magro, e quando perguntei o que estava ele fazendo na fila da minha familia, informou-me que, ao ver a comoção, foi la assuntar o que diabos era aquilo, e que de repente, eu o beijei, não que ele tivesse ficado sentido com minha atitude, muito antes pelo contrario, caso quisesse, poderia repetir.

E la fui eu, puxando duas enormes malas escada acima no infeliz do areoporto, tentando equilibrar o chapéu com pose nenhuma que me restava.

E embarcamos.

E, com chapéu e tudo, acordo na manhã seguinte com minha cabeca a repousar no colo do cidadão ao meu lado, com  o mesmo me informando que o desjejum ia ser servido, ingles gentleman que era, fazendo de conta que não percebeu meu rubor da cabeça aos pés, e que era normalissimo ter uma maluca dorminhoca enchapelada no colo, por toda a duração do vôo.

E também tive que achar um chapéu tipo J.R de Dallas pro meu pai, que fazia questão da coisa, chapéu que achei mas perdi no avião de volta ao Brasil, provavelmente em alguma parada, posto que também carregava um imenso urso de pelúcia, presente de um amigo querido.

Deve ter sido por isso que a areomoca ( fazer o que? era como se chamavam as atendentes de vôo na época), quando de meu embarque, com o chapéu texano na cabeça e o urso nos braços, me perguntou se estava fugindo de casa.

Por causa de um chapéu fiorentino, tive que pular a cerquinha que impede a entrada no jardim da frente da casa de Dante, sentar lá e ganhar de um perfeito desconhecido um livro chamado “Benditas Toscanas”.

Foi com  meu chapéu que abanei uma noiva desmaiada num casamento bizarro.

E foi com uma cópia em azul do véuzinho negro, que fui madrinha orgulhosissima de outro casamento, parece que uma centena de anos depois.

Foi a falta de chapéu que fez o padre quase afogar minha sobrinha no batizado dela, e no ímpeto, me encharcar,  derrubando o resto do jarro de água benta pra dentro do decote de minha roupa. Mister se faz informar que o decote era discretissimo, o padre é que estava atacado.

Mas sempre tive o sonho do chapéu de panaché. 

Daquele tipo dos 3 mosqueteiros, que primeiro vi no livro, cheio de desenhos, e depois no filme.

Panaché é algo que se usa com o queixo empinado. 
É o orgulho de se estar presente. 
É a admissao do: sim, sou.

Pois eis que vou levar minhas roupas pro Exercito da Salvação, coisa que faço sempre, em qualquer lugar dos EUA, posto que admiro imensamente o trabalho dessas criaturas, e até ajudei, numa época natalina, a tocar aquele sino na frente do Wall Mart, claro, de chapéu de Papai Noel, queria o que?

Todas as vezes que levo alguma doação, também dou uma passadinha na loja, que parece um pouco com o baú do Ali Babá, tem absolutamente tudo, e mais um pouco.

E eis que, logo na entrada, displicentemente reclinado no topo de uma compoteira, lá está meu chapéu de panaché, me chamando.

Yesssssssssssssssssssss love.

Sou a feliz possuidora de um chapéu de panaché de $ 1,50.
 Quem disse que felicidade tem que ser cara?

            Corrida dos Bersaglieri
 
                 Penna Nera - Alpini

 
                  Tema de Lara




     Os 60 anos da Julia. Favor notar o chapeu na estatua



Campanha da Russia - Os Alpini da Julia

CHAPÉUS E PANACHÉS

Panache é uma palavra de origem francesa que carrega a conotação de algo extravagante, corajoso, imprudente. A tradução literal é pluma, usada em um chapéu, mas a referência é ao Rei Henrique IV da França
Amante dos prazeres , cínico, líder corajoso, um dos mais queridos dos reis de França, era famoso por usar uma pluma branca impressionante em seu capacete e por seu grito de guerra: "Siga o meu penacho branco!"
( "Ralliez-vous à mon blanc panache!").

Sou fascinada por chapéus desde muito cedinho, acho que desde os 3 anos, quando nonno me mostrou o chapéu dele de bersagliere, com aquele mundaréu de penas a cascatear até seus joelhos.

Depois, vieram os chapéus de minha mãe e avós.

 Lembro de dois preferidos, um negro como noite sem luar ( perdão Castro Alves ), com um véuzinho cheio de bolinhas ( com certeza deveriam ter um nome especifico, o qual não esqueci, posto que jamais aprendi), e o outro era uma espécie de fascinator prateado que parecia uma enorme virgula.

Havia tambem o baú de maravilhas da avó de minha melhor amiga, que além de chapéus de todas as formas, côres, estilos e marcas, guardava vestidos, sapatos e luvas de eras há muito desaparecidas.

Quando fiz 15 anos e fui pra Italia, era inverno e minha mãe reformou uma estola de raposa vermelha dela, fazendo a gola de meu capote e mais o chapéu tipo russo (dava até pra ouvir o tema de lara ao fundo), combinando. 

O único problema era que o chapéu cobria meus olhos, mas um pouco de cegueira não ia me impedir de usar o que, em minha modesta opinião, era uma maravilha, e afinal, era só colocar um pouquinho de lado, e meu olho direito ficava quase que totalmente desimpedido...pra que mais de um?

E nessa viagem, ganhei o chapéu símbolo dos Alpini, de zio Rico e seu amigo,  heróis do Giulia.

Morando no Brasil, as oportunidades chapeleiras sempre foram pouquissimas, tirando praia e algumas maluquices nos meus jovens anos, até que outra oportunidade se apresentou: Fellowship nos EUA!

Como viajar em 1977 para a America sem chapéu???

E lá vou eu de fedora tipo Ingrid Bergman despedindo-se do Rick no final de Casablanca, menos o charme da citada senhora.

Areoporto de Congonhas. Detesto despedidas. Amo chegadas, mas como impedir familia italiana de se reunir no areoporto pra grande viagem da filha/irmã/neta/ sobrinha/prima, tinha de um tudo na fila do beijo, até que, depois de beijar um cara no final da fila, me dei conta que nunca o tinha visto, mais gordo ou mais magro, e quando perguntei o que estava ele fazendo na fila da minha familia, informou-me que, ao ver a comoção, foi la assuntar o que diabos era aquilo, e que de repente, eu o beijei, não que ele tivesse ficado sentido com minha atitude, muito antes pelo contrario, caso quisesse, poderia repetir.

E la fui eu, puxando duas enormes malas escada acima no infeliz do areoporto, tentando equilibrar o chapéu com pose nenhuma que me restava.

E embarcamos. E, com chapéu e tudo, acordo na manhã seguinte com minha cabeca a repousar no colo do cidadão ao meu lado, com  o mesmo me informando que o desjejum ia ser servido, ingles gentleman que era, fazendo de conta que não percebeu meu rubor da cabeça aos pés, e que era normalissimo ter uma maluca dorminhoca enchapelada no colo, por toda a duração do vôo.

E também tive que achar um chapéu tipo J.R de Dallas pro meu pai, que fazia questão da coisa, chapéu que achei mas perdi no avião de volta ao Brasil, provavelmente em alguma parada, posto que também carregava um imenso urso de pelúcia, presente de um amigo querido.

Deve ter sido por isso que a areomoca ( fazer o que? era como se chamavam as atendentes de vôo na época), quando de meu embarque, com o chapéu texano na cabeça e o urso nos braços, me perguntou se estava fugindo de casa.

Por causa de um chapéu fiorentino, tive que pular a cerquinha que impede a entrada no jardim da frente da casa de Dante, sentar lá e ganhar de um perfeito desconhecido um livro chamado “Benditas Toscanas”.

Foi com  meu chapéu que abanei uma noiva desmaiada num casamento bizarro.

E foi com uma cópia em azul do véuzinho negro, que fui madrinha orgulhosissima de outro casamento, parece que uma centena de anos depois.

Foi a falta de chapéu que fez o padre quase afogar minha sobrinha no batizado dela, e no ímpeto, me encharcar,  derrubando o resto do jarro de água benta pra dentro do decote de minha roupa. 

Mister se faz informar que o decote era discretissimo, o padre é que estava atacado.

Mas sempre tive o sonho do chapéu de panaché. 

Daquele tipo dos 3 mosqueteiros, que primeiro vi no livro, cheio de desenhos, e depois no filme.

Panaché é algo que se usa com o queixo empinado. É o orgulho de se estar presente. É a admissao do: sim, sou.

Pois eis que vou levar minhas roupas pro Exercito da Salvação, coisa que faço sempre, em qualquer lugar dos EUA, posto que admiro imensamente o trabalho dessas criaturas, e até ajudei, numa época natalina, a tocar aquele sino na frente do Wall Mart, claro, de chapéu de Papai Noel, queria o que?

Todas as vezes que levo alguma doação, também dou uma passadinha na loja, que parece um pouco com o baú do Ali Babá, tem absolutamente tudo, e mais um pouco.

E eis que, logo na entrada, displicentemente reclinado no topo de uma compoteira, lá está meu chapéu de panaché, me chamando.

Yesssssssssssssssssssss love.

Sou a feliz possuidora de um chapéu de panaché de $ 1,50.

 Quem disse que felicidade tem que ser cara?