Amo desculpas.
Venho-as colecionando há sei lá quantos anos.
Minhas e de quem mais se der ao trabalho de produzi-las.
Desculpas que fazem o maior sentido, chamam-se razões.
A razão pela qual fui ser médica, foi minha vocação, e agarro-me a ela com todas as fôrças, embora lá no fundo esteja plenamente conciente que, a) ainda não entendo bem o significado de vocação e, b) não acredito nela.
O pensamento lógico que me assalta, de quando em vez, com sua voz estridente de grilo falante, me diz que a coisa aconteceu feito receita de bolo:
- Junte-se meio quilo de curiosidade, duas colheres de sopa de prazer de aprendizado puro, um copo de prepotências, daquelas que vem do fato de Medicina ser reconhecidamente a mais difícil das faculdades, uma tonelada de desejo de ser diferente de todo mundo na família, uma pitada de pensamento alucinatório a respeito do poder sobre a vida e a morte, completo desconhecimento da realidade a gôsto, cozinhe-se a mistura no fogo alto da adolescência...e pronto, deu nisso.
Prefiro a tal da vocação.
Embora, segundo a Bíblia, tenha sido um homem a inventar a desculpa primeva - Adão em: desculpe Senhor, mas foi a mulher quem me tentou - nós mulheres elevamos o primitivismo masculino à categoria de arte, com A maiúsculo, e não à toa, Civilização é uma palavra feminina.
Nossa desculpa é que tivemos que sobreviver a milênios de subjugação masculina. Então tá.
Taí Helena de Tróia, que foi desculpa para uma guerra, mas até lá, divertindo-se à larga, sendo a desculpa dela de ter sido raptada por Páris.
Não esqueçamos de Electra, que fez com que a anta do irmão matasse a mãe e o amante dela, com a desculpa: acho que mamãe mandou matar papai, por conseguinte...
O problema da desculpa é sempre o "por conseguinte", o que jamais combina quando observado a partir de um ponto de vista desapaixonado, isso sempre que um ponto de vista consiga ser desapaixonado, o que também nunca vi.
Só vencedores não tem desculpas.
Jamais se ouviu um Bill Gates da vida dizer: "Eu inventei a Microsoft porque mamãe me dava cascudos quando era criança e dizia que não ia ser nada na vida...mostrei pra danada".
Ou um ganhador do Oscar, que agradece até a maçaneta da porta que abriu direitinho, mas certamente não dá desculpas.
E talvez gratidão seja o grande antídoto para as desculpas da vida.
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